Tirando algumas exceções pontuais, a maior parte de quem trabalha com marcenaria no Brasil usa madeira serrada. Como escolho as madeiras que trabalho aqui na Oficina é o que vamos ver abaixo:
1. Como está madeira foi cortada na Serraria:
No nosso país de forma geral a tora é cortada em pranchas em um único sentido, que faz com que tenhamos um desenho semelhante a uma catedral na face da peça, no topo ela estará “feliz ou triste”, esse corte faz com que a prancha tenha uma maior tendência ao empenamento. Existe um método de cortar a tora em quarto, com isso a face apresenta um desenho de linhas retas e a peça é muito mais estável quanto a empenamento
Dependendo da posição da tora que foi tirada a prancha conseguimos dividir ela na serra na marcenaria e ter peças mais estáveis, faço muito isso em colagens de tampos de mesa e principalmente para os pés de mobiliário estaqueado.
2. A finalidade
Para mobiliário interno como cadeiras, bancos, mesas, normalmente o que utilizamos aqui na é o Tauari ou Jequitibá-rosa. A primeira desgasta mais as ferramentas pela presença de sílica e a segunda na minha experiência tende a ter mais chance de empenamento. Para uso interno também, na parte de gabinetes e caixaria em geral sugiro aos cliente cedro rosa e freijó. Essas são as espécies que mais proponho para meus clientes principalmente pela facilidade de acesso em comprar esse material na minha cidade.
Quando o uso do mobiliário é externo, sugiro cumaru ou roxinho (uma das madeiras mais bonitas, na minha opinião) como primeiras opções.
Além da espécie, outra parte essencial dessa escolha é das dimensões das pranchas. Examino cuidadosamente a dimensão (que precisam estar de acordo com o projeto a ser executado), a orientação dos veios (principalmente na lateral da prancha pois madeiras que apresentam muita movimentação tendem a mexer durante todo o processo - secagem, corte e móvel acabado). Os nós também devem ser evitados em peças estruturais, como pés e travamentos, pois pode ocorrer a quebrar da peça exatamente onde esta o nó. Nesta região a madeira está mudando de sentido e tem suas de fibras curtas. No caso de tampos e assentos os nos não atrapalham estruturalmente. Ou seja, na madeireira o processo de separação da madeira que irei utilizar em um móvel pode durar HORAS.
Todo esse processo, de entender como a matéria prima veio da serraria, como foi acondicionada, sua umidade, e a analise cuidadosa da estrutura diz muito sobre o cuidado e atenção que a marcenaria tradicional tem com o móvel.
3. A umidade
Pronto, fui na madeireira que tem o tipo de madeira que estou procurando, no formato que preciso (prancha ou tábua). Mas além do tipo e formato o que devo analisar nesse escolha?
Isso, a umidade! Via de regra a madeira que está com umidade inferior a 13% é considerada seca (usamos um equipamento como a da foto para fazer essa medição). Em Goiânia temos um inversão de umidade relativa do ar que é bastante extrema (na época de chuva chegamos em 90% e no auge da seca ficamos abaixo de 10%) então quando vou fazer uma compra de madeira nos meses mais secos, por aqui procuro madeiras que estejam próximas de 7% para estar mais estável com a umidade exterior.
Já visitei colegas marceneiros em algumas cidades e uma realidade é que nem todos conseguem ter em seus espaços uma área de estocagem de madeira para longo prazo. Isso normalmente leva a uma dificuldade com umidade estável da madeira.
Todo esse ritual da escolha da madeira, do tempo necessário para estabilização da umidade é essencial para que que o seu móvel não tenha rachaduras ou empenamento.